Modal logístico brasileiro
- Admin Canal PPP

- 26 de jun. de 2018
- 3 min de leitura
por: Wilson Poso
Canal PPP
WPS Finanças Corporativas
A greve dos caminhoneiros acabou chamando a atenção, mesmo sem querer, para o absurdo que é a logística de cargas no Brasil. A nossa matriz de transporte é totalmente antieconômica. A lógica econômica é que o caminhão seja utilizado em percursos menores e para longas distancias sejam utilizados os modais ferroviário e cabotagem.
O custo logístico do Brasil é 50% superior ao custo logístico dos Estados Unidos, em relação ao PIB. Num país continental como o nosso, como eles também são, quase 70% das cargas são transportadas por rodovias, enquanto lá, 31%. Aqui apenas 18% das cargas são transportadas por ferrovias, enquanto que lá, 37%. Nos Estados Unidos 21% das cargas utilizam o modal dutoviário, aqui apenas 3%.
Esse situação resulta no fato das empresas brasileiras, que são extremamente eficientes da porteira para dentro, destruirem toda sua competitividade do portão para fora. Em relação aos seus faturamentos, o custo de logistica de nossas empresas é quase o dobro das empresas americanas.
Estudo da Fundação Dom Cabral divulgado recentemente, intitulado Plataforma de Infraestrutura em Logística de Transportes, revela que o Brasil seguirá dependente de caminhões por pelo menos 20 anos. Essa conclusão veio através da análise do portfólio de projetos existentes hoje no governo federal. Simplesmente assustador !
Não temos a capacidade de analisar a situação, entender o problema, definir onde queremos chegar e por fim, planejar os caminhos para atingir os nossos objetivos. No Brasil as coisas sempre foram tratadas priorizando os grupos e não o bem de toda a nação, somos sempre reativos aos problemas do dia a dia, sem conseguir pensar no todo e nos planejar.
A questão dos caminhoneiros é o exemplo clássico disso, um setor resolveu parar o Brasil fazendo reivindicações “egoístas”, como se somente esse segmento fosse impactado por todas as mazelas de nossa economia. E agora todos nós vamos pagar mais essa conta de forma direta e indireta. Mas entendo que no longo prazo foi um tiro no pé. Esse setor de transporte rodoviário que é fruto de estratégias equivocadas assumidas no passado apenas provou o total absurdo que é a sua existência, pelo menos no tamanho que atingiu.
Vale lembrar que o setor ferroviário teve seu auge no país entre as décadas de 1870 e 1920, tanto no transporte de cargas quanto no de passageiros. Mas, a chegada ao poder de Washington Luís, em 1926, e a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, contribuíram para desacelerar os investimentos no setor. A quebra da Bolsa afetou diretamente os cafeicultores brasileiros, clientes prioritários de algumas companhias ferroviárias. O político adotou como objetivo criar estradas no país, incentivando o transporte rodoviário.
Os presidentes que vieram na sequência, como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, também foram promotores dessa política. Naquele cenário até fazia sentido focar nas rodovias, mas o grande erro foi esquecer completamente das ferrovias.
E com o resultado do estudo da Fundação Dom Cabral ficou evidente que o setor público é incapaz de analisar, planejar e executar políticas que nos leve a melhorar a matriz logística de nosso país. Só consigo enxergar o setor privado fazendo isso acontecer. O empresariado brasileiro tem que se organizar através, quem sabe, de ONGs e criar condições suportando o setor público de informações e planejamento, enfim, induzindo a criação de políticas de Estado em detrimento da políticas de Governo.





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